terça-feira, 28 de julho de 2009

Pimentinha [Elis Regina]


A mulher permite que a sociedade integre nela as forças cósmicas, mesmo que a magia feminina tenha por muito tempo sido domesticada. A mulher se apresentava, de um lado, como um ser que era preciso raptar, violentar – as sabinas raptadas eram estéreis, fustigadas com correias de pele de bode; de outro lado, as mulheres eram ligadas ao marido por um casamento e asseguravam-se colaborando com ele, com o domínio de todas as forças femininas da natureza. O mundo acolhe o oriental que se contenta com uma fêmea que é para ele um objeto de prazer, mas o ocidental consciente de si reconhece também a liberdade alheia e dócil. Enfim, o cidadão romano, de Cornélia, de Ária, possui seu duplo. Talvez seja nessa natureza binária, dupla, inerente aos homens e as mulheres que Dois Na Bossa [1965] tenha surgido, de Elis Regina e Jair Rodrigues, não sob a rubrica de um matrimônio, não resta dúvida, mas sob uma aliança exuberante, uma das mais belas firmadas por Elis, entre tantas, com Edu Lobo, Tom Jobim, Belchior, Milton Nascimento. Em especial porque esse disco, Dois Na Bossa, vendeu mais de 1 milhão de cópias.Elis cantou samba, bossa nova, jazz e MPB. Registrou sua voz como instrumento na Ordem dos Músicos do Brasil. Venceu o I Festival de Música Brasileria [1965]. O seu show Falso Brilhante [1975] ficou mais de um ano em cartaz. Acrescente-se a esses recordes o álbum Elis [1972] que reúne os clássicos: Nada Será Como Antes, Atrás Do Porto, Cais, Casa No Campo e a gravação original de Águas De Março. O perfil de Elis é inteiramente humano, ou seja, contraditório, polêmico e corajoso. Ela se revelou como uma menina simples do Rio Grande do Sul que veio para o Rio-São Paulo tentar vencer. Em 20 anos de carreira a Pimentinha oscilou de uma intérprete de bolerões ao brilho de palcos do mundo inteiro.

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