terça-feira, 28 de julho de 2009

Antígona [Gal Costa]


Antígona foi quem formulou a alegação em nome daqueles que não possuíam um status socioontológico completo e definido. Marca-se a posição em que Antígona fala, mas desde que se compreenda que essa posição não seja apenas feminina, porque ela entra no domínio masculino das questões públicas: ao se dirigir a Creonte, chefe de Estado, ela fala com ele, apropriando-se de sua autoridade de forma deslocada e até perversa. Sua alegação desloca os contornos fundamentais da Lei, mas de uma lei que exclui e inclui. Antígona assume publicamente uma posição aparentemente ‘indefensável’, para a qual não existe nenhum lugar no espçao público, enquanto refunda os alicerces de um novo local. Como não se lembrar do gesto toponímico das Dunas De Gal nas praias do Rio senão pela posição desviante de Antígona? As Dunas De Gal se estabeleceram num trecho da praia de Ipanema, sob as botas do governo Médici e com os mentores do movimento tropicalista no exílio, enquanto a juventude atenta da época vivia entre a guerrilha e os charos acesos pela oposição lisérgica ao governo. Em 1971, o show Vapor Barato transformou-se num disco gravado ao vivo no Teatro Tereza Rachel, no Rio de Janeiro, em que Gal Costa era uma estrela, mas de uma atitude ‘marginal’, que cutucava o regime com dardos poéticos, com sua voz que queima como o gelo e corta feito o diamante: de Ismael Silva, Luiz Melodia, Caetano Veloso a Jardis Macalé, Waly Salomão. Gal começa de mansinho com o seu violão, neste disco, conhecido como Gal Fatal, até explodir junto com guitarras e microfonias.

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