segunda-feira, 27 de julho de 2009

Joraï [Kim Gordon]


Na lenda de Joraï, a mulher é fada e caçadora. Ela confecciona as iscas, tece as redes e as armadilhas em que a caça ou os inimigos serão capturados. A mulher de Joraï não participa do massacre da caça ou da guerra, ela deixa para o macho o papel de matador. Por isso, talvez, no momento da ereção da fortaleza ou da cidade, a mulher possua um poder tático. Lembra-se de Vivian ou a Mélusine, de Lusignan, ‘mulher-fada-animal’ que projetou sua fortaleza em um terreno que se faz imenso, graças às suas armadilhas topológicas. Mesmo no romance cortês, romance europeu típico do século XVII, o corpo da mulher foi associado à cidade-fortaleza e suas armadilhas, pois ele era considerado proliferador de surpresas e estratagemas, podendo fazer durar indefinidamente o combate amoroso, o duelo heterossexual e até mesmo a guerra. Imaginar, assim, Kim Gordon, a baixista do Sonic Youth, que construiu a discografia como uma fortaleza nesta banda, botando Lee Ranaldo, Thurston Moore, Steve Shelley e Jim O’Rourke, para matar, eventualmente, tal como a imagem da contracapa de Goo: ‘nothing... lipstick, a little blood’ –, uma mulher limpando com um lenço a boca suja, suspeita, de um homem.

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