terça-feira, 28 de julho de 2009

School-Alcohol [Maysa Matarazzo]


Geralmente as mulheres que sentem uma necessidade irresistível de se cortar com instrumentos específicos ou de se ferir de outras formas, criam estratégias desesperadas de ‘volta’ à realidade do seu corpo. Longe de ser uma atitude suicida, o corte é uma tentativa radical de [re]dominar a realidade ou basear-se na realidade do corpo contra a angústia insuportável de sentir-se inexistente. Ao ver o sangue quente e vermelho correr pelo ferimento auto-imposto, elas se sentem novamente vivas e enraizadas firmemente na realidade. Mais do que uma afecção doentia, o corte é uma tentativa patológica de recuperar algo da normalidade que restou, em suma, de evitar um colapso psicótico total. Certas vezes sentem-se esses obscuros momentos que povoaram suas vidas, que lhes encheram de detalhes. Quantos gestos Maysa Matarazzo erigiu contra uma explosão psicológica, reduzindo-se aos cacos por sua vida. Como não nos cercar de pequenos detalhes da vida de Maysa? Como ela se vestia, falava, dormia, cantava, escrevia? Como eram suas ressacas e seus vexames? O vício de álcool causou danos irreparáveis à sua vida e encurtou tragicamente sua vida? Ao adentrar no cotidiano dessa mulher, cantora, depara-se com uma vida prenhe do conteúdo que nos torna humano: a imperfeição. Maysa viveu em constante conflito consigo mesma com os outros, talvez porque ela não coubesse em si, isto é, como se existissem várias personalidades dentro do mesmo ser. O primeiro disco de Maysa saiu em 1956: Convite Para Ouvir Maysa. Compositora que flertou com o samba-canção, consagrando-se na bossa nova, com seu timbre rouco e aveludado, mas a sua queda pelo drama [real e de palco] a transformou numa das mais carismáticas de sua época. Sua vida atribulada por divórcio, escândalos, vícios contribuiu para sua voz, que cantava os desamores, até a sua morte, aos 40 anos.

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