quarta-feira, 29 de julho de 2009

Muse [Beth Gibbons]


Dummy, disco de estreia do Portishead, marcou a junção de Beth Gibbons e Geoff Barrows. Neste disco recuperou-se o mestre da soul music Isaac Hayes [com um sample de Ike’s Rap, presente em Glory Box]. Dummy reinventou o clima down com Sour Times, com seu refrão ‘nobodys loves me’, além de trazer, a preciosa Numb, quando realmente foi possível fundir discoteque, Hitchcock e orquestra sinfônica. O drama explícito na voz de Beth Gibbons paira sobre os climas sombrios do Dj Barrow, ex-colaborador de Neneh Cherry e do Massive Attack. Portishead, vindo de Bristol na Inglaterra, repetiu de uma forma singular o que musas, como Beth, em geral, fazem com a música e a poesia. Por muito tempo, em nossa cultura ocidental, a poesia consistiu em uma forma típica de possessão e de delírio divino. Possuído pelas Musas, o poeta tornava-se o intérprete do tempo, aliás, do passado, com a poesia oral, tal como ela se exerceu nas confrarias de aedos, de cantores e músicos, na idade arcaica. Pouco se sabe como o aprendiz de cantor se iniciava, nessas confrarias, para dominar essa língua poética. As próprias regras de composição oral exigiam que os cantores dispusessem de esboços de dicção formal para sua utilização, prontos para empregar expressões tradicionais, combinar palavras fixadas, identificar receitas de versificação estabelecidas. Assim, as Musas sabiam e cantavam tudo o que foi, o que era e o que seria, ao ouvido dos seus ‘eleitos’.

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