quarta-feira, 29 de julho de 2009

Nhambiquara [Marisa Monte]


Ela circulava pelo Rio de Janeiro ao volante de um Nissan Pathfinder e costumava jantar em Nova York na casa de Laurie Anderson. Marisa Monte elogiava Chico Science, enquanto Carlinhos Brown tocava o que o Arnaldo Antunes rabiscava, sob um clima ‘estradeiro’, de turnês no interior de São Paulo a viagens pelo Nepal, sua vida era uma viagem e desatava: ‘mais uma vez eu vou te deixar/ mas eu volto logo para te ver, vou com saudade no meu coração/ mando notícias de algum lugar”. É que a história da estrada – ruptura, via abrupta, via rompida, varada, fracta –, do espaço de reversibilidade e de repetição traçado pela abertura, pelo afastamento violento da natureza, da floresta natural, confunde-se com penetrar no ‘mundo perdido’ dos Nhambiquara [pequeno bando de indígenas nômades] que estão entre os mais primitivos que se possam encontrar, atravessados por uma picada [pista grosseira cujo traçado é quase indiscernível do mato]. De outro modo, além da paixão pela estrada, lembra-se de uma treta com o nome próprio que atacou Marisa: "eu não agüento mais a Marisa Monte! Eu não quero mais a Marisa Monte!" Mas era porque ela acordava de manhã e já tinha recado: reunião de vídeo, tal hora; resolução dos discos e ensaio para os shows tal hora. Sua cabeça estava para explodir. Os Nhambiquara, uma dessas tribos sem escrita, escondiam o que as meninas expunham na sua transgressão, não idiomas, mas nomes comuns, próprios. Um dia Claude brincava com um grupo de crianças Nhambiquara, quando uma das meninas tinha sido espancada por outra, que foi se refugiar perto dele, e pôs-se a murmurar alguma coisa em seu ouvido. Claude não compreendeu e a obrigou repetir diversas vezes, esse sussurro, esse ‘barulhinho’. A tal ponto que a adversária descobriu a manobra e veio lhe revelar, furiosamente, o que parecia ser um segredo: dizer o nome da sua inimiga e, quando a outra percebeu, comunicou-lhe o nome da primeira, como represália. Assim foi fácil e pouco escrupuloso conseguir o nome de todos os outros da tribo, com uma pequena cumplicidade criada. Quando os adultos compreenderam esses vocábulos conciliados, as crianças foram repreendidas, secou-se a fonte das informações. Entretanto, Marisa Monte gostava de certas músicas e mais ainda de ser instrumento para que as pessoas as conhecessem, ela não era uma Nhambiquara?

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